sexta-feira, 6 de maio de 2011

Cabeça ou cauda? O Dilema dos líderes e das empresas familiares

Consultor relembra a parábola da serpente para provocar a reflexão sobre a verdadeira liderança e seus seguidores.

Em uma das mais fantásticas aulas de liderança que recebi de meu mestre – que, de fato, sabia o que dizer sobre este assunto – ouvi a seguinte história.

“Era uma vez, uma serpente que rastejava pelo chão poeirento de um canto do mundo. Certo dia, subitamente a cauda voltou-se contra a cabeça, e furiosa, disse em tom rebelde: “Olha aqui, estou cansada de seguir-te para onde quer que inventes de ir! Há quanto tempo és o nosso guia? Já é tempo de eu assumir a liderança!

“Tu és tola” – respondeu a cabeça – “pois não apenas te meterias em todo tipo de trapalhada, como também me arrastarias contigo e a desgraça viria sobre nós duas!”

Mas a cauda teimava tanto em sua insensatez que a discussão ficou feroz. A cabeça acabou cedendo em favor apenas de algum sossego. Mas não deixou de declarar: “Não diga depois que não avisei!” A cauda, feliz, pulou para a frente, decidida que estava a aproveitar ao máximo sua recém-conquistada liderança e liberdade.

Contudo, antes que pudesse pensar, caiu numa poça d’água, e se não saltasse para fora a tempo, estariam completamente perdidas. Pouco depois, entrou numa fogueira, arrastando, logicamente, a cabeça atrás de si. Ficaram tão queimadas que mal escaparam com vida.

Mesmo após esta afortunada salvação, a cauda ainda não aprendera a lição, e insistiu em continuar com sua liderança tola, apegada a si própria. Embora a cabeça já estivesse cansada o bastante daquilo, tinha dado sua palavra, e, aborrecida, continuou a seguir sua guia imbecil. Mal teve tempo de perceber o que estava acontecendo, quando a cauda se enfiou num enorme espinheiro. Ela e a cabeça começaram a se virar, contorcer e retorcer tentando livrar-se, mas cada vez mais elas ficavam emaranhadas.

Por mais que insistissem, estavam tão presas entre os espinhos que não conseguiam mais se soltar. Acabaram perecendo. Tudo por causa da teimosia e estupidez da cauda em achar que podia guiar a cabeça!”

O jogo do poder em empresas familiares é um dos responsáveis pelo afastamento do fundador da liderança dos negócios em favor do controle de um ou mais herdeiros. Há casos em que o resultado desta substituição é positivo – por circunstâncias favoráveis, ou por ação de uma consultoria especializada. Por outro lado, o volume de insucessos é tão assustadoramente grande, que muitos de nós sabemos declinar nomes de grandes negócios familiares do passado e do presente que sucumbiram à administração de herdeiros. Muitos deles estavam até preparados tecnicamente, contudo, imaturos, iludidos sobre sua capacidade de discernimento e, o pior, apaixonados demais por seus egos. Pontos e mais pontos comuns à fábula de meu querido mestre.

A moral? Aqui vai: “Ai daqueles que se deixam guiar por tolos e arrogantes. Feliz é quem segue a orientação dos prudentes, sábios e humildes”.

Abraham Shapiro (Consultor e coach de líderes – shapiro@shapiro.com.br – www.profissaoatitude.com.br)

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